Educação
USP decide demitir professor Ricardo Felício, influenciador que contesta ‘teorias climáticas de especialistas’
Um dos nomes mais conhecidos como especialista climático no Brasil, o professor Ricardo Augusto Felício, 53, chamado de ‘negacionista do tempo’ por uma ala progressista da ciência e mídia, será demitido da USP (Universidade de São Paulo). A reitoria da instituição acatou a decisão tomada após um processo disciplinar contra o docente, que se recusou a dar aulas, mesmo que virtuais, durante a pandemia de Covid-19.
A dificuldade agora é notificar Felício, que não responde aos contatos da USP por carta, telefone ou e-mail.
“A citação é uma parte fundamental. Agora já não falta nada para concretizarmos a demissão, só a ciência dele. Só que ele deve estar muito bem amparado juridicamente e está se esquivando dessa notificação”, diz Paulo Martins, diretor da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).
Contratado pela USP em 2007, Felício ministrava a disciplina de climatologia no curso de geografia. Ele nega que as atividades humanas causem as mudanças climáticas —contrariando a produção científica abundante que demonstra que as emissões de gases-estufa ligadas à humanidade têm relação com o aumento global de temperaturas.
“Seria ótimo se nós conseguíssemos notificá-lo via redes sociais ou no chat do YouTube, onde ele continua ativo. O cara não sai da internet”, ironiza Martins, que diz que a universidade deverá avançar com um processo judicial para realizar a notificação.
Segundo o processo disciplinar, Ricardo Felício se recusou a dar qualquer aula desde o começo da crise sanitária e, mesmo assim, continuou a receber normalmente o pagamento pelo trabalho. Contratado em regime parcial, ele deveria ministrar 12 horas semanais, com remuneração atual de cerca de R$ 2.814 mensais.
O abandono dos compromissos do magistério contrasta com a intensa atividade nas redes sociais e em eventos para questionar que as mudanças climáticas sejam causadas pela humanidade.
As restrições de Felício às atividades docentes não parecem ter sido motivadas por preocupações com os riscos da Covid-19. O professor publicou diversos vídeos questionando a gravidade da pandemia, chamada por ele pejorativamente de “fraudemia”.
A Justiça determinou, em 2021, a remoção do YouTube de dois vídeos produzidos por ele. Além da Covid-19 em si, Ricardo Felício, que é formado em meteorologia, também passou a atacar as vacinas e o uso de máscaras, mais uma vez contrariando a ala progressista da ciência.
Felício coleciona ainda vídeos com abordagem contrárias a instituições como o IPCC, o painel de cientistas do clima da ONU.
De acordo com Martins, a universidade deve avançar com um processo pelo ressarcimento dos valores repassados sem que Felício trabalhasse. O diretor da FFLCH relata também que a situação prejudicou alunos e outros professores, que ficaram sobrecarregados com o acúmulo das funções. “Do ponto de vista trabalhista, o que ele fez é inominável, é terrível.”
A aprovação da demissão permitirá retirar Ricardo Felício formalmente dos quadros de professores da faculdade, o que abrirá caminho para a contratação de um substituto.
“Abrir um concurso para a contratação de professor na USP não é fácil, não é só colocar um anúncio na internet. É preciso justificar isso muito bem para o Tribunal de Contas do Estado”, diz Martins.
Nas redes sociais, diversos ambientalistas comemoram a demissão do negacionista climático.
O jeito comunicativo e articulado do meteorologista, combinado às declarações polêmicas, contribuíram para que ele ganhasse espaço em programas de rádio e televisão —e posteriormente em diversos vídeos na internet.
Em 2012, Felício teve destaque após ser entrevistado por Jô Soares, na Rede Globo, quando voltou a contestar a influência humana no aquecimento global.
Sob o nome “Prof. Ricardo Felício”, o meteorologista foi candidato a deputado federal em 2018 pelo PSL, então partido de Jair Bolsonaro. Ele recebeu 11.163 votos e não se elegeu.
Depois de vender videoaulas e um curso pela internet, Felício aparece também listado como orador em uma empresa que faz o agenciamento para organização de palestras.
fonte: folhapress
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